Parece que toda saudade vem companhada de uma lembrança, de uma história. Há saudades que a gente não sabe bem do que é. Toda saudade tem seu canto, até essas que não se sabe deve ter o seu. Esse canto do pássaro representa tão bem a saudade, já que é um pássaro e que está voando, nalgum canto/lugar. A saudade é o que não tem, a gaiola vazia, a presença da ausência que agora voa, pássaro, e canta. Canta dentro, uma extinção que existe viva e que é lembrança de asas. Uma vez cuidei dum filhote de passarinho até ele voar. Não voltou, saiu cantando. Um bem-ti-vi que não vi mais. Só a saudade é que tá presa, arrumei uma gaiola pra ela. Porque a liberdade é dura e empalha nessas horas.
A gente vive costurando saudades.
Você disse da pintura como escavação, achei bonito demais e pensei que na paleta também há esse terreno que pode ser escavado. Saudade também pode ser escavada.
José Alberto Bahia